Kaleidoscópio Literário
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Meu Diário
03/01/2015 15h32
NO MEIO DO CAMINHO (Péricles Alves de Oliveira)

 

      (Inspirado no poema homônimo de Drummond)
 

 

Havia uma rosa
no meio do caminho,

no meio do caminho
havia uma rosa;

havia uma rosa,

no meio do caminho
havia uma rosa.

 

Nunca me esquecerei
daquele fatídico dia em que,
quando fui alegremente
lhe colher,

feri meu coração
em meio aos afiados e dolorosos
espinhos.
Mon amour!

 

 

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

03/01/2015

 

imagem: google

Publicado por KATHLEEN LESSA
em 03/01/2015 às 15h32
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
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17/12/2014 23h28
GUADALÚPEDES (Lucas de Meira)


caminho
pelo ponto final
de muitas almas

de histórias interrompidas
pelo desespero
pelo dinheiro
pela cachaça

pela vida

vem aqui, Leão!
e o homem divide
meio pastel
que pegou do chão
com o cachorrinho

outro, de rosto ferido de briga
fala que ainda dá pra ser feliz
pois ganhou um copo de vinho
de garrafão
de uns guris

enquanto,
uma senhora
vai de lixo em lixo
como se fosse
um colibri

e passa a mão na barriga
que avisa
já passou da hora

está caindo a tarde
e, pelos cantos
eles vão
em vão
se agrupando
buscando no sono
algum sonho
que os afaste
do abandono

um deles
que me observava
desde o primeiro verso
e que não consegui definir
se era homem
ou mulher

quis saber
por que eu estava ali
então, parado

e antes
que eu pudesse responder,
perguntou
em que ano estamos?

respondi 2010
e ele, ou ela
é,
meu filho ia fazer nove
jesus o levou
tinha de ser eu
tinha de ser eu
tinha de ser eu, diabo!
e vi um mapa
de picadas
em seus braços

meu ônibus chegou
e eu só pensei em agradecer
àlguma divindade
pelo que não sou

pois vi em todos aqueles olhos
uma tela de sentimentos
outrora dominantes nos meus passos

mas, em nenhum vi a força
que me fez levantar a cabeça
e fugir de ter
até a sombra
mutilada

o motorista deu a partida
e, pela janela,
ainda vi dois meninos
e uma moça
abordando uns fiéis
que chegavam na igreja
cuja santa
também nomeia o terminal

a indiferença foi tanta
que me pareceu
que os três já eram vistos
como peças do cenário local
como se fossem outros pombos
ou viralatas

o ônibus fez uma longa volta
para então seguir seu curso
o que me fez rever
quase todos os figurantes
daquele filme
quase mudo, cego
absurdo

então, lhe pergunto
poema amigo:
o que estamos fazendo aqui
neste plano?

estamos vivendo
em recorrente castigo
se não me engano
decorrente de alheios
erros de gravatas

(no entanto,
por nossas escolhas
: eis a errata)

quando pensava no verso seguinte
ouvi a cobradora dizer para alguém
não tenho troco pra vinte
e o motorista berrar
meu deus!
antes de quase afundar nos freios

deixei cair meu lápis
voaram minhas folhas
& as palavras ficaram
caladas
:
uma mulher descalça
com um pequeno entre os seios
atravessava o sinal vermelho

quase que
na estrofe errada

23/01/2010

Lucas de Meira

 

* * *

Publicado por KATHLEEN LESSA
em 17/12/2014 às 23h28
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17/12/2014 23h09
O SILÊNCIO É O AVESSO DO MEU GRITO (José de Castro)

 

 

Há uma leveza na escrita de certos poetas – a leveza de que nos fala Ítalo Calvino -   que nos faz ter a sensação de bolhas de sabão multicoloridas que vão subindo, subindo e subindo... E brilham e depois estouram de luz. E se desmancham no ar. Ninguém sabe aonde vão, em que mistérios se escondem. Onde vão chocar seus versos? Em ninhos de sorriso ou de pranto? Em ruas, em praças, em esquinas, em igrejas, nos bares? Onde? Talvez em berços de vento. Ou tomam o mesmo destino das chamas que se apagam e ninguém sabe em que páramos vão brilhar. E algures lançam faíscas. Talvez sejam estrelas, novas estrelas de outro lugar. Assim os poetas insones. Que temperam com versos o sabor das madrugadas. 

Essa escrita mágica tem a sabedoria ancestral de todos os que vieram antes, abrindo trilhas. Cada poeta é um pouco de drummond, quintana, manoel de barros ou bandeira, cecília, adélia, vinícius, leminsk e tantos outros, daqui e de além mar – camões ou pessoa, neruda ou verlaine -  que pisaram esse solo fértil da poesia leve, livre, solta feito o pássaro que nunca se aquietou em seu ninho. E que está sempre à procura da mais alta montanha de onde possa espiar o mundo e espichá-lo e, ao mesmo tempo, fazê-lo caber dentro de nós. E nos deixar guardá-lo nas retinas feito um papel de parede enfeitado de novos horizontes. E passamos a ser guardiães do tempo. Um tempo sem tempo, mas contemporâneo de todos os vivos e de todos os mortos.  

É hora de descobrir que o poeta tem por abrigo o espanto. E o canto de todos os menestréis que sabem a alegria ou a dor de rimar alma e coração. E os poemas são feito grãos de espigas de milho trincando de amarelo por entre o bico das araras azuis nos finais de tarde. E alimentam de estrelas os pássaros da noite. Seriam os poetas como o último voo do flamingo de que nos fala Mia Couto? As mesmas aves que abrem suas asas de esperança por sobre os precipícios que engolem o mundo? Todo poeta é menos que nada e um pouco mais que isso. E tem olhos de além. De olhos vendados, desvendam e abrem clarões no escuro.  

Os poemas nos ajudam a ninar e afagar a solidão que atravessa a savana de nossas almas. Feito a imensidão de uma África que nos trouxe de herança o lamento escravo, o mesmo que nos ensinou lições de afoxé, o banzo dos cangerês ao luar e os encantos de iorubá. E somos a ginga da capoeira e somos poeira e somos pó. E somos prisioneiros de nós mesmos, sob o látego de rimas que inauguram saudades de um tempo em que éramos sem ter sido. Irmãos de agônica dor. E da mesma tristura de folhas de outono a arrastar promessas de novas primaveras, sonhos que amadurecerão feito o fruto das lembranças da criança que ainda habita em nós. Então, os livros nos espiam e conversam conosco. E, mesmo sozinhos, jamais estamos sós. E navegamos e seguimos o curso da vida.

O poeta abre-nos os olhos. Ao mesmo tempo os poetas lançam um olhar sobre eles mesmos. E dizem:  somos feito o rio que flui para si mesmo, sem foz, que segue apenas a voz do encanto que se espalha nas praias de algum lugar perdido, sem mar.  E somos sol e sal. E ardemos e temperamos de emoção o mundo.  E somos feito um grão de ternura que se espalha pelo ar. E depois de depois não se sabe mais o que somos... Um mistério que se esvai sem pouso certo. E segue em frente, sempre em frente... Em direção a lugar nenhum. E vai a todos os lugares, pelos mundos do sem fim...  Até achar o princípio do que nunca existiu. E assim se faz de alfa e ômega. E onde começa, ali mesmo termina. E nunca tem fim.  Nesse momento,  o poeta é o verso e o reverso do infinito. E o silêncio contido no peito é o avesso do seu próprio grito.  E recebe das palavras a unção bendita de tudo aquilo que, apesar de ser falado, jamais é compreendido em plenitude. O que uma palavra diz, ela mesma esconde. E assim mesmo pressente-se a vacuidade e a plenitude do vazio que não cabendo em si transborda. Caudal de emoções. Poesia é um jeito de sentir. 

E beleza é tudo aquilo que se sente e jamais se explica. Por isso, a cada dia, agradeço o dom do entendimento recebido de todos os que nos ensinam os mistérios da entrelinha.  E o segredo de cochichar palavras a uma centena e mais uma dezena e outras tantas quantas folhas em branco. E pousam os poetas sobre elas os sonhos que ainda precisam nascer em berços de girassol, em pétalas amarelas do pão da poesia para nos alimentar a cada dia. 

Benditos os trigais da palavra que tremulam os seus frágeis pendões pelas campinas.  Ali germina o alimento que ninguém vê, mas que nutre a alma do milagre do simples existir. Ali também adormecem as rimas. E depois vão-se embora. Sem métrica, vida afora. Feito grão de vento. Feito o orvalho que acaricia a folha e tem o brilho da prata, o fulgor do ouro, esse tesouro de sol, vida a se reinaugurar em mistérios a cada nova manhã. 

O poeta abre o livro e nele insere dois versos breves: "O silêncio é o avesso do meu grito. / E nele mora o infinito." 

A bênção todos os poetas, os de antes e os que ainda virão. 

O mundo é um barco que só a poesia sabe remar. Tão breve por fora. Tão vasta por dentro. 

De volta ao começo. Solta o verso, feito pluma bate asas, evola e se esfuma, se esgarça e se perde pelo ar.

O silêncio é o avesso do meu grito.

Agora, resta-me apenas calar. 

 

José de Castro

* * *

 

 

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em 17/12/2014 às 23h09
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17/12/2014 22h56
POEMA DAS NECESSIDADES (Paulo R. Cequinel )


Não preciso ser negro para lutar contra o racismo.

Não preciso ser mulher para lutar contra o machismo.

Não preciso ser criança para lutar contra a pedofilia e a violência sexual.

Não preciso ler a bíblia, o corão ou o torá para saber o que é certo ou errado.

Não preciso ter sido expulso do campo para lutar pela reforma agrária e apoiar incondicionalmente o MST.

Não preciso morar numa favela à beira de um rio morto para lutar por moradia digna.

Não preciso ficar doente para lutar por saúde digna.

Não preciso ser igual para lutar por aqueles que são diferentes.

Não preciso estar morto para defender a vida.

Não preciso ser gay para lutar pelo povo LGTB.

Não.
Preciso, apenas, da minha lucidez alucinada.

Deito com minha loucura serenada pelo cansaço de quem tenta, tenta e não desiste.

Sempre vale a pena.

Meus filhos e netos precisam disso.

É o que posso.

É o que tenho.

É o que dou.

 

* * *

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em 17/12/2014 às 22h56
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18/10/2014 16h59
RASURAS ÀS DOBRAS (Péricles Alves de Oliveira)

 

 

RASURAS ÀS DOBRAS

 

 

Só o olhar do cão
pode manter 

- ao sentido contrário - 

a nívea e sublime
imagem do falso santo; 

costuma-se provar 
às viças e hirsutas sombras.

 

 

Péricles Alves de Oliveira

*

 

(intertexto  com o poema " Iza Bel ", de Kathleen Lessa)

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Os textos da autora têm registro no ISBN. Plágio é crime.