Kaleidoscópio Literário
a expressão de Kathleen Lessa
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Meu Diário
15/03/2009 17h09
É QUASE OUTONO! (kml)
Celina Figueiredo, amiga poeta, em 11/3/200 escreveu este HAIKAI, belo como todos os demais:

 
Cálida manhã,
tombam mortas folhas ocres _
Anúncio de outono!
 


Que venha logo esse outono, amiga, e me faça novamente feliz, perdida nos tons de amarelo-cobre, folhas de verde-acinzentado, entre plátanos e araucárias, respirando Campos do Jordão!
Será que neste ano conseguirei ficar alguns dias por lá? Entre as quaresmeiras da serra e o azul tão profundo das tardes, anéis de nuvens embabadando a Mantiqueira? O perfume das pereiras e macieiras? A relva ainda orvalhada sob o sol gentil das primeiras horas da manhãs?
Tomara!

Acrescento dois dos meus poetrix:

 
 
CAMPOS DO JORDÃO I

Tempo de plátanos outonais,
Pálidos e secos como os trigais
Do impressionista holandês.

CAMPOS DO JORDÃO II

Roupas de lã, noites já frias, 
Céu que acorda azul e dorme violáceo,
Chocolate quente e vista pros pinheirais.



VISTA PANORÂMICA DA SERRA



Publicado por KATHLEEN LESSA
em 15/03/2009 às 17h09
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
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14/03/2009 10h52
A UM AUSENTE (Drummond)


- A UM AUSENTE -
 
C. Drummond de Andrade
 

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
 

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
 

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
 

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Publicado por KATHLEEN LESSA
em 14/03/2009 às 10h52
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09/03/2009 20h42
VOCÊ SABE OU VOCÊ SENTE? (Artur da Távola)

Você já reparou o quanto as pessoas falam dos outros?
Falam de tudo.
Da moral, do comportamento, dos sentimentos, das reações, dos medos, das imperfeições, dos erros, das criancices, ranzinzices, chatices, mesmices, grandezas, feitos, espantos.
Sobretudo falam do comportamento.
E falam porque supõem saber. Mas não sabem.
Porque jamais foram capazes de sentir como o outro sente.
Se sentissem não falariam.

Só pode falar da dor de perder um filho, um pai que já perdeu, ou a mãe já ferida por tal amputação de vida.
Dou esse exemplo extremo porque ele ilustra melhor.
As pessoas falam da reação das outras e do comportamento delas quase sempre sem jamais terem sentido o que elas sentiram.
Mas sentir o que o outro sente não significa sentir por ele. Isso é masoquismo.
Significa perceber o que ele sente e ser suficientemente forte para ajudá-lo exatamente pela capacidade de não se contaminar com o que o machucou.
Se nos deixarmos contaminar (fecundar?) pelo sentimento que o outro está sentindo, como teremos forças para ajudá-lo?
Só quem já foi capaz de sentir os muitos sentimentos do mundo é capaz de saber algo sobre as outras pessoas e aceitá-las, com tolerância.
Sentir os muitos sentimentos do mundo não é ser uma caixa de sofrimentos.
Isso é ser infeliz.
Sentir os muitos sentimentos do mundo é abrir-se a qualquer forma de sentimento.
É analisá-los interiormente, deixar todos os sentimentos de que somos dotados fluir sem barreiras, sem medos, os maus, os bons, os pérfidos, os sórdidos, os baixos, os elevados, os mais puros, os melhores, os santos.
Só quem deixou fluir sem barreiras, medos e defesas todos os próprios sentimentos, pode sabê-los, de senti-los no próximo.
Espere florescer a árvore do próprio sentimento.
Vivendo, aceitando as podas da realidade e se possível fecundando.
A verdade é que só sabemos o que já sentimos.
Podemos intuir, perceber, atinar; podemos até, conhecer.
Mas saber jamais.
Só se sabe aquilo que já se sentiu.
 
 

Artur da Távola 

Publicado por KATHLEEN LESSA
em 09/03/2009 às 20h42
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09/03/2009 20h10
MEU NOME É MULHER (Joana Lima)

MEU NOME É MULHER!
 
(Joana Lima)

No princípio eu era a Eva
Criada para a felicidade de Adão.
Mais tarde fui Maria
Dando à luz Aquele
Que traria a salvação.
Mas isso não bastaria
Para eu encontrar perdão.

Passei a ser Amélia
A mulher de verdade.
Para a sociedade
Não tinha a menor vaidade
Mas sonhava com a igualdade.
Muito tempo depois decidi:
Não dá mais!
Quero minha dignidade
Tenho meus ideais!

Hoje não sou só esposa ou filha
Sou pai, mãe, arrimo de família
Sou caminhoneira, taxista,
Piloto de avião, policial feminina,
Operária em construção...

Ao mundo peço licença
Para atuar onde quiser.
Meu sobrenome é COMPETÊNCIA
E meu nome é... MULHER!

Publicado por KATHLEEN LESSA
em 09/03/2009 às 20h10
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09/03/2009 04h29
A PERCEPÇÃO DE MIM... e um poema de "Álvaro de Campos" (kml)
 
 
A percepção de mim. Vaga. Mutante.
Algumas certezas sem convicção.
Estranho meus pensamentos.
Estranho a passagem do tempo sobre a pele.
Há quantos dias apareceu esta pinta  na base do meu polegar direito? Tenho a impressão de que ontem não estava nele.
E essas duas rugas nos olhos, uma no canto de um, outra no canto do outro? Veio a reboque com o salpico castanho no dedão?
Quando foi que comecei a ficar tão confusa sobre mim mesma? Estava certa na minha avaliação anterior ou estou nesta do presente? Ou nem lá nem cá?

Qual foi o start?
O fato é que tenho me estranhado, estranhado meu corpo, minhas lucubrações, as reações (tão frouxas...), as sensações novas (não necessariamente boas...), os temores como sentinelas, sentimentos fortes que querem mais espaço, palavras novas que  escorrem pelos lábios, num bailado nervoso...
A gente sabe que as coisas mudam e nós também com elas. Quando acontecem as mudanças, porém, o imponderável levanta-se! Susto. Frustração. Espelho deformado.
Sabemos quanto sobre nós?
Emprestamo-nos outras pessoas, habitamo-nas?
Sei de mim o quê? Se o que penso que sei hoje não é o que pensei saber ontem?
Desconheço-me. Eis a verdade.
Tremulo nas mãos. No corpo. Minha imagem se desfaz. No espelho e na minha sombra.


 
QUANDO OLHO PARA MIM NÃO ME PERCEBO... *


Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir

As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca propriamente reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

* Fernando Pessoa/Álvaro de Campos,
1913


 
Publicado por KATHLEEN LESSA
em 09/03/2009 às 04h29
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Página 37 de 40
Os textos da autora têm registro no ISBN. Plágio é crime.