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Meu Diário
20/01/2011 06h14
OS RELACIONAMENTOS AMOROSOS __Entrevista com Jacob Goldberg

O que faz um casamento feliz e duradouro hoje em dia?
Estamos livres de antigos padrões?


O psicanalista, e feminista, Jacob Pinheiro Goldberg dá seu parecer.

Você já experimentou se ajoelhar, antes de dormir, e fazer uma oração para a Deusa que está no céu?

Para nós, reles mortais criadas majoritariamente sob ideologia cristã, soa estranho usar a terminação feminina para evocar o Onipresente.

Mas o consagrado psicanalista Dr. Jacob Pinheiro Goldberg acha natural que Adão tenha sido gerado no útero de Eva, e não Eva da costela dele, como reza a Bíblia.

Em 1998, o psicólogo causou polêmica na conferência “Eva Será Deus” apresentada em Londres para intelectuais e cientistas de diversas nacionalidades.

Jacob é firme ao dizer que os casamentos atuais ainda seguem modelos machistas e discute o uso da palavra traição.
Defende que a revolução feminista, que ainda não aconteceu, é a única maneira de mudar essa realidade.

O que leva as mulheres a se casarem hoje?

A idéia de um companheiro ou pai ainda é, e provavelmente sempre será, a prioridade. O segundo fator é o conceito romântico de amor. Outra constante é a tentativa de fuga da promiscuidade, do risco de vários parceiros. E, infelizmente, a mulher ainda tem jornada dupla de trabalho. Então, se ela encontra um parceiro capaz de dividir as responsabilidades, tem a vida facilitada. Mesmo a mulher autônoma ainda é submetida a uma pressão machista, violenta e cruel da sociedade. A mulher solitária é vista com desdém, com rejeição e suspeita. Por muitas vezes, ela procura o reconhecimento da sociedade através do casamento, que funciona como uma apólice de seguro. Me arrisco a dizer, num cálculo arbitrário, que entre 70% e 80% das mulheres se casam por uma dessas razões. Ou ainda por aflição ou desespero.

Um homem de 50 anos, solteiro, é visto como bom partido...


Não como bom, mas ótimo partido. Em geral, está numa situação econômica melhor, tem experiência. E se o homem for feio pode ter charme. A mulher feia sofre preconceitos da manipulação masculina. Esse discurso e essa mentira de que houve transformações radicais nas relações são estatisticamente desprezíveis. A intelectualidade brasileira tem uma atitude hipócrita, a mulher fica vaidosa: “Hoje eu estou mais liberada”. Entra na jogada masculina e é explorada. Para casar, o homem é mais difícil, cobra o preço da submissão, inclusive nos pequenos grupos chamados da elite sociocultural.

Como essa submissão se manifesta?


Eu vejo isso dentro da minha casa. Tenho um filho do primeiro casamento que tem 40 anos. E um de 17, um de 16 e uma de 12. Eles circulam nos meios considerados socialmente privilegiados, mas eu percebo que meus filhos vão com mais trânsito para as baladas do que ela e as amigas. O discurso aparente delas é de liberdade. Mas não é verdade, elas se sentem mais à vontade quando acompanhadas pelos meninos. A própria paquera delas vem com uma carga de aflição. É como se precisasse exibir o troféu do amor conquistado, enquanto os meninos têm uma atitude quase de superioridade. Em vez de a mulher criar um modelo próprio, revolucionário, algumas acabam acompanhando esses modelos masculinos, superados, grosseiros.

Tenho a impressão de que se criaram modelos diferentes de casamentos, mesmo com pequena parte da sociedade. É só uma impressão?


É só uma impressão. Há poucos anos recebi um holandês que disse estar aborrecido porque a mulher estava tendo um caso com um terceiro. Eu, brasileiramente, o interrompi: “Então ela está cometendo adultério?”. Ele olhou para mim, perplexo: “Como assim? Ela tem todo o direito de amar um outro homem. Estou é triste porque gostaria de ajudá-la”. Ouvindo aquilo tive a consciência de quanto isso é estranho para nós. Como vamos falar em casamento aberto no Brasil? Só como piada. Só para o homem. Ai da coitada da mulher que tiver coragem de revelar para o marido que está apaixonada, tendo um caso. Agora, se for o contrário, o sujeito ainda é capaz de exigir compreensão, “dá um tempo, é uma fase que eu estou passando”.

É possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo?

Absolutamente possível.

O ser humano é poligâmico essencialmente?


Acho que não existe uma resposta genética, e sim cultural: nós somos contraditórios. As pessoas exigem uma inteireza idealizada. Isso causa dor por causa da culpa. O conceito de lealdade, de traição, é um conflito que pelo menos para a alma latina não está resolvido. Todo mundo que conheço, todos os meus pacientes, principalmente os homens, quer lealdade de seu parceiro. Mas se reserva o direito de pular a cerca.


Há neles uma consciência de que o outro pode estar fazendo o mesmo?

Na ordem dos fatores é assim: “Eu preferiria que fosse leal, mas se tiver que ser corno, pelo amor de Deus, que eu não saiba. Se, na pior das desgraças, eu ficar sabendo, que pelo menos a minha mamãe não fique”.


Teria outra maneira de encarar a traição?

Só existe traição quando há a intencionalidade e a perversidade de impingir ao outro sofrimento. Se você está no cinema de mãozinha dada com seu parceiro e roça o braço no cidadão à sua esquerda só para que seu parceiro fique com ciúme, é traição. Agora, se você ama seu parceiro e ele foi fazer um curso no Canadá, você saiu uma noite, se excitou sexualmente, nem se lembrou dele, não teve a intenção de trair. Pelo contrário.

Nesse caso seria uma questão de respeito não contar?

Exatamente. É um limite de censura que a sociedade e a nossa cultura impõem e você faz até por delicadeza. Muitas vezes também eu percebo um drama: “Eu gostaria de ser autêntico”. Autêntico ou impiedoso?

Fundamental é mesmo o amor ou é possível ser feliz sozinha?

O destino do ser humano é solitário. As relações humanas são importantes, mas circunstanciais. Você de mãos dadas, beijando a boca, no meio de uma transa, fecha os olhos e vem uma fantasia erótica com outra pessoa. Nós sempre pretendemos um diálogo, mas estamos sempre num monólogo.

Hoje homens e mulheres têm mais liberdade para sair sozinhos. Isso pode fazer o casamento durar mais?

A mulher está dando mais espaço para o homem, até para tentar manter o casamento. O homem, mesmo sendo leal à mulher, se permite um trânsito social que ela não se permite. Andar sozinho a partir de uma certa hora, por exemplo. Ir a um bar à noite sozinha. Se fizer isso, ela vai ser assediada grosseiramente. E você vai dizer: “Não nos permitimos porque não queremos”. Não, vocês não foram educadas para ter essa demanda. Mas não estamos condenados a viver permanentemente assim. Felizmente hoje existe muito mais liberdade do que nas gerações anteriores. Minha filha é uma mulher mais independente do que minha mãe foi. Mas não podemos ficar num processo masturbatório de autocongratulação, “já conseguimos”. Não, não conseguimos ainda.

O IBGE aponta que 72% das separações judiciais são iniciativa da mulher. Somos nós que queremos casar e nós que terminamos. Por que as decisões parecem mais fáceis para a mulher?

Como ela foi levada a se casar por causa das circunstâncias, quando fica insuportável ela sai do casamento. Para não ficar doente e não morrer. Tanto é que a incidência de câncer no útero, na mama, é em proporções absurdas. Isso não é uma coincidência. Por que a mulher é atingida nas suas zonas que representam a feminilidade? É a dor e a tristeza que caracterizam essa condição.

O que faz uma relação durar?


Quanto menos amor, mais possibilidade de ser madura. Essa idéia do amor tem uma certa pieguice neurótica, herança da dama e do cavalheiro da Idade Média. O homem e a mulher, cada vez mais, precisam ser amigos e companheiros para enfrentar a realidade agreste que é o sofrimento das contingências humanas. Não por pacto, por compromisso, por instituição religiosa ou convicção social.


Esta história de casamento em casas separadas é válido?

Morar na mesma casa é intimidade — quando você faz livremente essa opção. Mas a maioria das pessoas quer morar junto por razões de condomínio. Os muito ricos, em geral, têm duas casas. Os muito pobres têm seus quartos, suas separações e ficam transitando. Na minha casa, quando vem trabalhar uma pessoa como empregada doméstica, uma das perguntas que a gente faz é: “Você tem namorado, noivo ou marido?”. E a moça diz “não”. Isso na terça-feira. No sábado ela fala: “Hoje eu tenho que sair mais cedo para encontrar meu noivo. Conheci um sujeito no supermercado e a gente ficou noivo”. Ela tem menos exigências, menos demandas neuróticas, e por isso é mais livre. Mais presa é a classe média, que tem a ambição de subir e o pânico de descer. Ela se agarra no marido, na mulher, porque mal dá para ter dois automóveis, imagina dois apartamentos...


É hipocrisia, ingenuidade ou nada disso achar que dá para viver um longo casamento sem traição?

É freqüente que seja por covardia. Medo de ser pego e das conseqüências que possam advir. Nessa hipótese entra uma dose de hipocrisia. Às vezes há ingenuidade diante da vida, uma dificuldade de ter manha de fazer sem ser pego. E às vezes é uma respeitável decisão. A pessoa gosta da outra e se basta. Uma outra mentira é a idéia da necessidade de ter casos.


As pessoas querem amar ou se apaixonar?


Colocando em termos prioritários: primeiro, querem ser amadas; depois, querem se apaixonar; terceiro, não querem se apaixonar porque têm medo de sofrer. Estamos no território das contradições. Em quarto lugar, querem amar. E durma-se com um barulho desses.

Entrevista concedida para a Revista Trip para mulher.
Entrevistadora: Ariane Abdallah

Publicado por KATHLEEN LESSA
em 20/01/2011 às 06h14
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11/01/2011 02h35
NOSSAS QUALIDADES ATRAEM HOSTILIDADE (Flávio Gikovate)


Crescemos e nos formamos levando em consideração, basicamente, aquilo que ouvimos dos nossos pais e professores. Por influência deles, somos levados a concluir que é conveniente sermos pessoas boas, esforçadas, trabalhadoras e gentis com os nossos colegas, uma vez que este é o caminho para sermos aceitos e queridos por eles. Uma das mais desagradáveis surpresas que muitos de nós tiveram ao longo da adolescência reside no fato de que, exatamente por sermos portadores de tais qualidades, somos muito mais hostilizados que amados.

A idéia de que o acúmulo de virtudes despertará o amor das pessoas parece lógica, de modo que quase todos se esforçam nesta direção. Só não agem de modo legal aqueles que não conseguiram o desenvolvimento interior necessário para, por exemplo, controlar seus impulsos agressivos ou renunciar a determinados prazeres imediatos em favor de outros, maiores, colocados no futuro. Assim, ao longo da vida adulta convivem dois tipos de pessoas: aqueles que conseguiram vencer estes obstáculos interiores e se tornaram criaturas melhores, e outros que não foram capazes de ultrapassar estas primeiras e fundamentais dificuldades - e que se esforçam ao máximo para disfarçar suas fraquezas. Os primeiros são os que saíram vencedores no primeiro combate importante da vida, o de “domesticar” seus próprios impulsos destrutivos, e se transformaram em criaturas portadoras das propriedades humanas que somos unânimes em catalogar como virtudes.

O que acontece? Os perdedores se sentem incomodados e humilhados pelo fato de não possuírem igual capacidade de controle interior. Este dado é muito importante, pois indica que, independentemente do que digam, os perdedores sabem perfeitamente quais são as virtudes e as apreciam; não aderem a elas porque isto implica em um esforço que não são capazes de fazer. De todo modo, os perdedores - que adoram desfilar como “superiores” e indiferentes às questões de moral -, por se sentirem humilhados, também se sentem agredidos pela presença daquelas virtudes em uma outra pessoa que não neles próprios. Comparam-se com o virtuoso, consideram-se inferiores a eles, sentem-se por baixo, irritados com a presença daquelas virtudes que adorariam possuir. A vaidade dos perdedores fica ferida e eles, como têm pouca competência para controlar a agressividade, saem atirando pedras.

É claro que tais pedradas têm de ser sutis para que não denunciem todos os passos do mecanismo da inveja: reação agressiva derivada de suposta ofensa na vaidade daquele que se sentiu inferiorizado por não ter as virtudes que lhes provocaram a admiração. Sim, porque o invejoso admira muito o invejado; senão seria tudo totalmente sem sentido. Saber que o bandido inveja o mocinho é uma das razões da esperança que sempre tive no futuro da nossa espécie.

A agressividade sutil derivada da inveja nos derruba, entre outras razões, porque ela vem de pessoas que gostaríamos que nos amassem. Afinal de contas, nos esforçamos tanto para conseguir os bons resultados justamente para ter essa recompensa. É difícil para um filho perceber que suas qualidades despertam em seu pai emoções contraditórias: por um lado, a admiração se transforma em inveja, de modo que o pai se ressente da boa evolução do filho. O mesmo acontece entre mães e filhas, sendo inúmeras as exceções onde a admiração não dá origem à vertente invejosa.

As “agulhadas”, as indiretas e as observações depreciativas e inoportunas próprias da inveja existem de modo muito intenso entre irmãos (eternos rivais), entre marido e mulher, assim como em todas as outras relações sociais e profissionais. É praticamente impossível uma pessoa se destacar por virtudes ou competências especiais sem ser objeto da enorme carga negativa derivada da hostilidade invejosa. O mais grave é que não fomos educados para isso, de modo que nos surpreendemos e ficamos chocados ao observarmos esse resultado. A decepção é tal que muitos se desequilibram quando atingem algum tipo de destaque, condição na qual são levados a um estado de solidão - o oposto do que pretendiam. Uns se drogam e outros tratam de destruir rapidamente o que construíram, de modo a deixarem de ser objeto de inveja.

Tudo isso é, além de triste, inevitável, ao menos no estágio atual do nosso desenvolvimento emocional. Poderíamos ser ao menos alertados por uma educação mais sincera e sem ilusões. Toda ilusão trará uma desilusão! A maior parte das pessoas jamais imaginou, por exemplo, o volume de problemas e de decepções por que passam as moças mais belas, especialmente quando isso se associa a uma inteligência sofisticada e a uma formação moral requintada. São portadoras daquelas virtudes que mais aparecem e encantam a todos. São, por isso mesmo, objeto de uma hostilidade inesperada e enorme. Ficam totalmente encurraladas e quase nunca sabem como sair da situação a não ser destruindo algumas de suas propriedades.

Flávio Gikovate  é médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil.
Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo
Email:
instituto@flaviogikovate.com.br

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09/01/2011 07h17
O PEQUENO PRÍNCIPE (por Rosane Villela)


Por ser "O Pequeno Príncipe" uma obra bastante conhecida pelo público através dos meios audiovisuais, é indispensável a sua leitura. Do livro nascem os olhares, e é nele, em seu recolhimento, que a consciência do homem se expande. No silêncio das palavras que jorram o infinito.
Num mundo, onde a pressa edita a agonia da servidão ao tudo-pronto-e-fácil; onde famílias não mais se sentam juntas à mesa para conversar; onde se articulam, cada vez menos, palavras para dialogar; onde a lei descambou para o oportunismo e a amoralidade; onde os homens se desrespeitam, indiferentes aos sentimentos que nem sabem traduzir; e onde o tempo desfila distraído e sem rumo, reter os passos num livro que aponta caminhos opostos, não é apenas necessário. É urgente.
Trabalhar os valores e as reflexões que O Pequeno Príncipe levanta, acrescenta a nossa humanidade o que, talvez, ela tenha esquecido ou relegado ao segundo plano.
E, para que esta obra seja apreciada em sua essência, ela deve ser lida com o coração e com os olhos da infância que não temem o vôo da imaginação e enxergam sem ver. Somente assim será possível a percepção do elefante sendo digerido pela jibóia (desenho do menino Exupéry, que aparece na primeira página), e a não aceitação da explicação limitada do adulto de que tal desenho seria um chapéu. 
                              
Desilusão, medo, orgulho, vaidade, ternura, amor, maldade, espanto, prepotência e esperança são alguns dos sentimentos que estão subjacentes à história. Sentimentos ilustrados em certas passagens que nos remontam às fábulas — pela narração alegórica que encerra uma lição moral e cujas personagens são animais, como a raposa e a serpente —, ou que, principalmente, nos remete às parábolas — pela narração na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior ou moral —, esta última um artifício mais presente em toda a obra, inteligentemente usada como técnica pedagógica. Antoine de Saint-Exupéry sabia que, deixar um ensinamento "escondido" em parábolas, sem predispor seus leitores à censura prévia, a nenhum pré-julgamento, até a total compreensão e consequente correta interpretação delas, possibilitaria o fenômeno da sua aplicação universal em todos os tempos, adaptada às situações semelhantes... 
Aparentemente simples, O Pequeno Príncipe contém entrelinhas de profunda filosofia, que reforçam a visão diferenciada e, na maioria das vezes, antagônica de mundo que crianças e adultos apresentam. E é a universalidade desta filosofia que repousa na importância das coisas simples e dos sentimentos, que faz com que edições desta obra se repitam incansavelmente.
                              
Plenas de simbolismo, as personagens de O Pequeno Príncipe se interpõem para que o equívoco da valorização do ser humano, baseada na avaliação do que ele possui — e não do que ele sente e tem a oferecer como ser solidário e fraterno —, possa ser esclarecido e, ao mesmo tempo, sepultado. Esclarecido, através da crítica à primazia do ter sobre o ser, exemplificada nas personagens diversas, e, sepultado, metaforicamente, através da "viagem", que o pequeno príncipe faz de volta ao seu planeta. Um ser que precisa "viajar", ou seja, morrer, para poder renascer.
Como uma estrela para brilhar, rindo, iluminando a Terra. Somente assim, a solidão humana não reinará soberana e haverá alguma possibilidade de sua salvação na nova criança que, então, surgirá. 
 
 
Rosane Villela
março, 2008
http://www.germinaliteratura.com.br

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07/01/2011 02h55
PARA KATHLEEN LESSA (de Rose Stteffen)

 

PARA KATHLEEN LESSA


É tão simples para mim falar de você!
Nossa ligação jamais foi perigosa,
Nossa ligação sempre foi de profundo respeito,
Uma ligação de amizade amorosa.
Sei da complexidade que há em você,
Simplesmente porque você é você.
Eu a reconheci desde as primeiras palavras trocadas entre nós,
Sem nenhum nó atando intenções emaranhadas.
Como uma sentinela observei sua alegria,
Como mulher doí com sua dor,
Como humana vi o quanto foi preciso para abalá-la...
Sei que você foi escolhida, a escolhida;
Aquela que levaria culpas que os culpados de fato não eram capazes de carregarem ...
Aquela que se deu a chance de amar e se sentiu amada...

Mas o seu amor incomodou demais!
Era preciso interferências,
Claro!
Como você, logo você iousaria amar?
E justamente amar uma pessoa tão comum?
Não! Era preciso fazer desta pessoa um Deus do Nada,
Que fosse reverenciado apenas para que doesse em você.
Quantas delícias seu sofrimento causou!
Eu a observo e através de você vejo mundos,
Alguns que fazem com que eu queira desistir de tudo e todos,
Outros que anulam os primeiros 
E a esperança se espalham por mim.
O fato que mais me chama a atenção é que pensam que você seja uma personagem...
Que você não seja um ser humano em sua totalidade...
Não sei e não me importa o que eles dizem.
Sei quem você sempre foi para mim:
A amiga com a qual ri e chorei ,
A amiga que riu comigo e também chorou.
Você não é a dama de ferro!
Sim, é uma dama, desde que a tratem com respeito
Mas de ferro, no sentido maldoso, não é não.
Ferro não chora, não ama, não sonha, não ri...
Você tem toda a beleza de uma mulher em sua plenitude
E sendo um oceano como você é
Não seriam pequenas poças que as chuvas deixam e o sol seca
Que iriam diminuir todo o mistério e encanto de você mar!

Poder chamá-la de amiga é uma conquista para mim.
É uma honra ser amiga da escritora, da pessoa e da mulher

que você é.
Obrigada, amiga!

Rose Stteffen
8/12/2010

 

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05/01/2011 18h17
RESÍDUO (Carlos Drummond de Andtrade)

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.

Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.

Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço

vazio   de cigarros, ficou um pouco.

Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.

Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?

Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.

Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.


 

foto: Danilo Oliveira

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Os textos da autora têm registro no ISBN. Plágio é crime.