COREOGRAFIA AMOROSA

 

Você dorme e eu ensaio uma coreografia.
          Sou sua fada madrinha, de sapatilhas azuis,
          E espalho um véu de voile sobre seu rosto
           À procura do menino deitado no berço.

                    Em movimentos suaves  sopro venturas em sua testa
                    E purpurina verde sobre seus olhos cerrados.
                    Você-menino será feliz, desfará essa ruga da fronte,
                    Não verá os crimes nem a insensatez das cidades.
 
Você dorme e eu ensaio uma coreografia.
           Sou sua feiticeira amorosa, sortilégios entre os dedos,
           E estendo um véu de transparente lilás sobre seu dorso
           À procura do homem deitado na cama.

                    Em movimentos sensuais verto paixão em seus lábios
                    E gotas de beijos sobre seu corpo contido.
                    Você-homem será feliz, desfará esse nó no coração,
                    Não conhecerá as traições e os dissabores do amor.
 
Você dorme e eu ensaio uma coreografia.
            Sou sua amante bailarina, sedutora nos gestos e passos,
            E abro meu véu de nudez sobre seu corpo lasso
            À procura do amante adormecido.

                     Em movimentos exóticos subverto-lhe os sentidos,
                     Sons roucos e gemidos sobre seu corpo quase nu.
                     Você-amante será feliz , desfará a letargia de anos ,
                     Não sucumbirá à monotonia de automáticos gozos.
 
Você dorme e eu ensaio uma coreografia.
             Sou sua fada, feiticeira, amante, dançarina,
             A cigana, sua menina, a fêmea felina,
             Revelando suas muitas faces,
             Fazeres e quereres de gula e desejo,
             Sua insaciedade escondida,
             Enfim liberta!
Livre para buscar mãos, seios, boca, língua,
Tocar pele, pelos, poros, pés,
Riscar costas, pernas, ombros, ancas,
Embaralhar suores, cheiros, cabelos,
Tragar sumos e saliva...
Demarcar território na concha do meu ventre,
Nele plantar seu prazer, colher orvalhados frutos.
 
                       Acorde do longo devaneio, meu amado...
                                Há uma coreografia esperando por nós:
                                       A dança-bolero de vermelho-tango,
                                             A dança do verbo amar!


 
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