ESTAVA ESCRITO
Cultivei-me
De corpo e alma,
Por longos trinta anos...
Resisti às tentações da carne...
Vesti-me de castidade
Aos ataques da cupidez...
Sabia-me ungido
Para o Amor puro, sacrossanto, imaculado.
Ele veio,
(Estava escrito)
Como um presente dos deuses,
Envolto em pele macia,
Cheirando natureza,
Trazendo a beleza nos olhos
De um sol crepuscular...
Derramando em meus ouvidos
Palavras doces como o mel das jandaíras,
Devassou-me a inocência...
Transido, percorri édens infinitos,
Derramei-me em lavas incandescentes,
Molhei-me em viscosidades
Com cheiro de folhas verdes...
Porejando gotas salgadas,
Ensopou-me todo,
Deixando meu corpo em salmouras
De prazer e gozo...
Para mim, breves instantes.
Para ela, uma eternidade.
Rápida como chegou,
Partiu...
Meus olhos,
Outrora poços brilhantes
De águas negras,
Mortificados sangram,
Perenemente, à sua espera...
Estava escrito, minha menina.
José Augusto de Oliveira