Kaleidoscópio Literário
a expressão de Kathleen Lessa
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                               1ª CARTA A UM POETA


             Cismando na madrugada, poeta...Não há novidade no fato. A madrugada e eu somos  dois pares de olhos.
          Num tear imaginário se tecem as relações.
E você diz cada coisa tão absurda e  maravilhosa! Mesmo assim, não tem jeito...eu me ponho a pensar e então mergulho em coisas ainda mais estranhas. 
Caetaneando, esses nossos papos já estão qualquer coisa,  e qualquer coisa doida, dentro da gente, mexe! Dispara! Um fio puxa outro, enrosca-se e seguimos  nessa tecelagem sintônica.
O assunto já nem importa! A trama de frases é que é fantástica. As cores. As combinações aparentemente sem harmonia. Viajamos nas teias e veredas das palavras, dos sons, das muitas histórias.

           Enquanto isso a chuva se espalha pelos vidros da janela. Gosto da chuva. Sou chuva. E eu me espalho sobre os fios e os laços das conversas. 
Não me embaraço neles. Apenas deito-me sobre eles.

           Há os fios virtuais e os outros fios virtuais, poeta.
Os seus, por mais que os sejam, não os são...Nem os meus.
Entendeu?
Além disso, sempre fui boa bordadeira e tricoteira. Era capaz de desmanchar uma blusa inteira, lavar os fios de boa lã ou linha de seda e...voilà! Desembaraçados, re-enovelados, prontos para serem tricotados. Novo ensaio, nova peça, experiência, acerto ou erro. Às vezes arte. Como a nossa. Uma urdidura sem fim!

           Fios... Necessário será na vida que cortemos os fios da espera? Teremos paz?  Seguraremos a angústia e a ansiedade no limite?
Será, acaso, o mesmo que cortar o fio do telefone  ou deixar o fone fora da base?  Não sofreremos se ninguém telefonar? O coração não ficará em estado de alerta nem nossos músculos contraídos? Os dentes e lábios nervosos?
 "Ligaram sim, viu?, mas o telefone estava desligado e então..."
Subterfúgio.

               Falamos de amor e lembramos de dores. Várias. Só não pensei nas dores experimentadas durante ou depois da batalha e conquista do êxtase, do orgasmo, a doida e doída explosão de prazer...Essas são deliciosas! Liberam endorfinas, nos deixam eufóricos e felizes, saciados, conquanto ao mesmo tempo desejosos de novos rounds... Há como que um transporte para o infinito, mistura de  fogo e água, sol e lua, suores e perfumes, lágrimas e risos, sons estranhos e silêncio, é loucura e paz.
Largamos nosso corpo... Deixamos de ser nós... Somos tão somente uma sensação... Depois, como que um vazio.

            De repente eu me recordo daquela canção francesa dos anos 60 , "F...comme Femme". Mais especificamente dos versos:


              
Elle m'enchaînait cent fois par jour
              Au doux poteau de sa tendresse...

              Mes chaînes étaient tressées d'amour,

              J 'étais martyre de ses caresses... (*)

 Lembra-se, poeta?

            Não. Não me embaraço neles. Gosto de fiá-los, desfiá-los, uni-los e de desatá-los, amarrar, amarrar-me. Mas é só isso. E não é pouco. 

Beijos. Já é tarde. Ou cedo demais. 
Os raios do nascer do dia me convidam a dormir. A gente acaba por se deitar com olhos de rã... esbugalhados. Sentimental que somos, como diz certa canção.
Kathleen

*Ela me acorrentava cem vezes por dia
Ao doce arrimo de sua ternura...
Minhas correntes eram trançadas de amor,
Eu era mártir de suas carícias!

 ("F.... comme Femme", de S. Adamo)

KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 25/12/2007
Alterado em 26/06/2009
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