REABILITAR-SE

     Sucumbir a qualquer vício, nos dias atuais, não é difícil. Para tanto contribuem a desorganização social, o caos instalado no mundo, o isolamento e a aspereza das grandes cidades, a ausência de valores, as relações natimortas, o império do egoísmo, do individualismo, as dificuldades financeiras e de trabalho, o aparecimento de doenças graves, berçadas na vida moderna e no estresse, e de poucos torcendo a favor da recuperação de uma pessoa. Verdade seja dita: o malogro alheio é prato cheio na mídia, nas fofocas do happy-hour, nas conversas por celulares, nos e-mails. Parou de beber, largou os cigarros, abandonou o jogo, propôs-se a trabalhar seriamente, iniciou uma dieta, afastou-se das drogas, venceu suas compulsões, retomou os estudos, caminhava sobre a linha reta e, de repente, pegou uma variante da estrada. 
Lama, buracos, árvores tombadas, queda de barreira...

     Como saber o que se passa no mundo das doenças socioemocionais que acometem uma pessoa? Que lhe advem irresponsabilidade, medo, agressividade, incapacidade de conviver em grupo, autodestruição, perturbações psicossomáticas, desvios de conduta, conflitos etc ?
     Quando ocorrem esses rompimentos, o elo que a pessoa quebrou foi consigo mesma, com a sua expectativa, muitas vezes por excesso de confiança, por precipitação em se julgar curada e pronta. 
Fracassada mais uma vez,  sempre haverá a turma dos vampiros, dos boicoitadores, dos torcedores pelo mau resultado de terceiros:  "Eu não disse? Eu não falei? Essa pessoa não tem jeito mesmo...Tava na cara que não duraria...Não tem vergonha".
Nada de vergonha. Tentar quantas vezes forem necessárias.
      Tenhamos em mente, posto que essas batalhas são árduas, que o progresso acontece a passos lentíssimos! E solitários. 
A pessoa poderá cercar-se de técnicas de apoio, receber algum auxílio profissional ou amigo, mas a decisão de recomeçar e reabilitar-se é unicamente pessoal.
       É a persistência que vence a resistência.



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