AOS PEDAÇOS...
Como posso me ocultar
Por detrás das venezianas
Se o eco da minha dor
Escapa por entre as frestas
E me revela?
Como posso me esconder
Por detrás dessas paredes
Se minhas lágrimas
Vazam por entre os tijolos
E me denunciam?
Como posso fingir
Que não estou
Que morri
Se as batidas do meu coração,
Machucado, gritam por socorro?
Como posso?
Como posso estar e não ser
Olhar e nada ver
Viver e não respirar
Trancafiar a alma
E vê-la se debatendo
Tentando cerrar as grades,
Largar este corpo
Procurar outra embalagem?
Ah, os dias de agonia lenta
De tristeza barulhenta
De solidão sangrenta
De angústia deflagrada!
De morte anunciada
Mas não aceita...
Venha, Esperança...
Espalhe purpurina verde
Sobre meus dias...
E sopre forte,
Bem forte.