Amado José Walter, amigo poeta,
se você ainda estivesse por aqui eu lhe enviaria um presente, falaríamos ao telefone e o dia seria calmo, arrastado, à moda bahiana, porque hoje é também o aniversário de Salvador, feriado portanto. Certamente eu declamaria um poema para você, como fiz algumas vezes nos mais de dez anos da nossa amizade fiada, bordada e rebordada. Seria uma festa ao nosso jeito.
Infelizmente, você viajou. Não está mais visível aos meus olhos nem audível aos meus ouvidos. É seu primeiro aniversário em outra dimensão.
Quanta saudade! Ainda não me acostumei à sua ausência e penso que ela também é responsável por eu estar mais calada a cada dia. Tudo tão de repente...
Viajou; resolveu ir espiar o mar não mais de sua rua... foi buscar um outro ângulo, um esconderijo especial, de onde possa vê-lo, senti-lo na pele, sorver-lhe o perfume, ouvi-lo de um modo só seu... distante da poluição, do burburinho das gentes e destrato das águas, que tanto o exasperavam. A noite deverá ter lua e estrelas claras, radiantes e em algum lugar da sua cidade o som de um saxofone, de um oboé ou de flauta, só para lhe agradar. Pressinto até mesmo uma festa mágica, encomendada por seus novos amigos. Ao som de Jesus Christ Superstar, versão 1970, a original,
Comemore, poeta! Comemore sua estada na Paz e na Luz.
Imaginariamente corto um bolo de chocolate, bebo um refresco gelado, acendo velas, abro alguns de seus poemas, enxugo uma lágrima do coração e lhe digo:
Feliz aniversário, meu rei.
Entre as estrelas colha meus beijos e as centelhas de uma amizade que se fez poesia e que não tem fim!
Kathleen