FRAGMENTOS E CISMARES 03
[DESENCONTROS E DESCOMPASSOS]
O meu espanto é com a emoção e a reação que a beleza, a arte, os gestos da vida me causam...é com a inteligência, que me seduz e arrebata...com o artesanato do viver.
Por isso é necessário apurar os ouvidos e limpar os olhos, pra ouvir e ver mais do que o simples contar. No nosso íntimo há um ser artista que quer vir à tona, atuando ou imaginando como atuaria, se tivesse oportunidade de estar na cena.
Os desencontros doem.
Mas os descompassos doem ainda mais, pois pressupõem que houve o encontro mas não a sintonia. Falar de nossas vidas, relembrar outras épocas, ponderar erros e acertos, aguardar que as pontes sejam reparadas para haver a travessia, dividir uma colherinha de sal pra ninguém ter a pressão sangüínea elevada (coração insensato!), conter a ansiedade, criar intimidade, são preparativos para um encontro com menores chances de fracasso.
O carnaval passou.
Deste, nem cinzas ficaram na nascente quarta-feira que hoje abre a quaresma...
São quase 6:00, amigo... Amanheceu um céu rosa esgazeado, com pinceladas lilases. Guardei as estrelas da madrugada como pedrinhas brilhantes que sinalizam o caminho para entrar nesses pensares novamente...Augusto chamava esses momentos de monólogos sublimes... de se ficar a cismar. Augusto, o poeta da morte.
A fantasia alça os limites do apartamento, transpõe a janela, rodopia a saia no ar fresco... Em evoluções sobe. Evapora-se.