SENRYU nada mais é do que um haikai (três versos de 5-7-5, mas sem rigor absoluto). Também sem título e sem rima tem, porém, linguagem geralmente coloquial, de conteúdo cômico, humorístico, jocoso, irônico ou satírico, conceitual ou filófico.
De forma epigramática, trata principalmente do cotidiano da vida, dos sentimentos, hábitos, atos e vicissitudes do homem e da sociedade.
Ao contrário do Haikai, o senryu não exige um "kigo" de estação ou fenômeno sazonal, embora possa contê-lo.
Exemplos:
com pó e mistério
a mulher ao espelho
retoca o adultério
(Millôr Fernandes)
nem flor nem espinho
tinha um haikai
no meio do caminho
(Alvaro Posselt)
sorriso maroto -
um rapaz observa as flores
na saia da mulher.
(Rafael Noris)
lareira nova;
alguém procura na agenda
pelo disque-lenha
(Raul Pough)
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TANKA significa "poema curto" (tan - curto, breve; e ka - poema ou múscia), formado por 31 sílabas (versos de 5 - 7 - 5 - 7 - 7 sílabas, respectivamente).
Sua origem está no waka, poesia aristocrática também de 31 sílabas.
Chama a atenção porque ele se divide em duas estrofes: a primeira formada por 5-7-5 sílabas, chamada de kami no ku ("primeiro verso") e a segunda, com 7-7 sílabas, chamada de shimo no ku ("último verso").
Exemplos:
O sapo engoliu
a estrelinha que piscava
no escuro do brejo.
Ficou mais sombria a noite
sem o seu pirilampejo.
(Helena Kolody)
A álgida beleza
da fome, sombra do nada,
corta-me a vontade.
Uso o cavalo de Tróia,
vou às raias da verdade.
(Cloves Marques)
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RENGA
Depois de um tempo o tanka passou a ser composto por 2 pessoas.
Uma se encarrega da primeira estrofe (denominada: hokku) e outra pela segunda estrofe (denominada wakiku).
Essa forma poética foi-se disseminando e passou a ligar-se a outras estrofes da mesma medida, somando centenas de versos!
À essa nova forma - como uma fieira de versos em forma de tanka - deu-se o nome de RENGA (ou renga haikai, ou renku).
Exemplos:
Se o cavalo dele
tivesse sido domado
pela minha mão –
eu tê-lo-ia ensinado
a não seguir mais ninguém.
Mesmo quando um rio
de lágrimas atravessa
e molha este corpo,
não chega para apagar
todo o fogo do amor.
Porque não terei
pensado nisto já antes?
Este corpo meu
ao recordar tanto o teu
tem a marca que deixaste.
Penso: “nos meus sonhos
poderemos encontra-nos” …
Virando a almofada,
eu ando às voltas na cama
incapaz de adormecer.
Consumi o corpo
a desejar o regresso
do que não voltou.
É agora um vale profundo
o que foi meu coração
Deixada aqui
a envelhecer no mundo
sem ti ao meu lado,
as flores perdem a beleza
tingidas de negra cor.
(Isumi Shikibu)
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No blog de Rafael Noris [hai-kais.blogspot.com.br] pode-se ler sobre o senryu:
"____ A versão profana do haicai tem nome, é senryu. O que o haicai tem de espiritual, o senryu tem de mundano. Não entenda isto como pejorativo, mas é que o senryu possui um caráter humorístico e humano, principalmente no que concerne às ditas fraquezas, diferentemente do haicai, que preza a natureza e o caminho espiritual.
O nome Senryu foi dado a partir do nome do haicaísta Senryu Karai (1718-1790), que foi quem propagou este gênero. Abaixo, um exemplo dele:
O ladrão:
quando eu o pego,
eis meu filho.
Senryu Karai
De acordo com o poeta Michael Welch, fazer um bom senryu é mais do que mostrar sagacidade e realizar trocadilhos.Um bom senryu deve incluir “inteligência ou humor como parte de um propósito ainda mais vibrante”.
Cantina mexicana –
O garçom diz
Bon appetite.
Michael Welch
No Brasil e no mundo, muitos escritores não diferenciam o haicai do senryu, o que costuma confundir muitos que ainda não conhecem ambos os gêneros. Paulo Leminski, Helena Kolody, Millôr Fernandes são exemplos nacionais que costumam/costumavam publicar senryu utilizando o "rótulo" de haicai. Mas é bom diferenciar estes estilos, não só por didatismo, mas para que possamos nos aprofundar no espírito que percorre cada um.
com pó e mistério
a mulher ao espelho
retoca o adultério
Millôr Fernandes
O menino me ensina
como um velho sábio
o quanto sou menina
Alice Ruiz _______"