Também tive meu quintal, Ana. Sereno, cheio de sonhos, quarador coberto de alvíssimo branco nas roupas, panelas que riam de tanto brilho enquanto secavam ao sol, abacateiro, ameixeira, tomateiro, roseiras, copos-de-leite, brilhantina, dois buxinhos arredondados, minhocas e taturanas, gaiolas de passarinhos, uma casinha de madeira, feita por meu pai. Na verdade era um barracão, com porta e janela. Destinava-se a guardar ferramentas, latas de tinta, vassouras, mangueira de água, bicicleta, sacolas de feira e também a ser casinha das bonecas das três meninas da casa, panelinhas, talheres, fogãozinho, bola, corda, bambolês. Servia ainda de local para passar roupas e fazer consertos domésticos.
Já imaginaram a mixórdia lá dentro? Até que não...
Foi nele também que Rebeca, a mestiça de collie, teve parte de suas crias. Era dócil, amorosa, não dava trabalho, parecia a famosa Lassie de Hollywood, mas com porte bem menor. Esteve conosco por 18 anos.
Atrás do barracão havia um muro alto de tijolos crus, que dava para a área central de uma tecelagem. Eu costumava subir numa escada e nele me apoiava para ver a entrada e saída dos operários, atraída pelo apito da fábrica. Outro toque ao meio-dia. Hora do almoço e eles abriam as marmitas de alumínio no pátio, sentados no chão. Eu adorava observar aquele espaço e pessoas!
Era também no quintal que minha mãe, avó e alguma tia ou vizinha às vezes punham cadeiras para conversar enquanto tomavam um cafezinho.
E eu, ouvidos atentos às conversas "proibidas", de gente grande.
Era a inocente sabida.
Década de cinquenta, bairro do Ipiranga.
Saudade!
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