INFÂNCIA ADULTA
Crianças trabalham nas ruas,
No abre-e-fecha dos semáforos.
"Vai querê, dotô?"
"Me ajuda, dona."
Entre drops, chicletes, flanelas,
Sem doçura e vazias de afeto,
Descalças e maltrapilhas,
Olhar caído, estômago doído,
Elas circulam entre os carros.
De todo malabaristas,
Sem família nem escola,
Entre balas perdidas e cheiro de cola,
Buquês de flores e saquinhos de amendoim,
Propostas de sexo, perguntas e quês,
Em troca de algum troco...
A troco de experiência futura...
Crack, coca, oxi.
Um grave acidente no cruzamento.
Todos fingem, ninguém viu.
Vidros fechados, som alto.
Tantos problemas na cabeça!
Sonhos e futuro atropelados
Na encruzilhada dos dias.
Vidas mutiladas.
Infância cortada.
Quem eram?
Ninguém.
Na tevê
Todos se condoem.
Nossos olhos assistem,
Choram também.
"Por quê?"
"Meu Deus, que tristeza..."
Semáforos fecham.
"Ei! Não lava o vidro do meu carro!"
"Dá um trocado pra mim?"
Da infância aviltada
Virá o troco,
Cedo ou tarde.
(E aí, senhores?
Continuam nas propinas e favores,
No uso e abuso da infância?)
* imagem: revista "Isto É"
(versão 2ª)
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 27/04/2011
Alterado em 25/05/2014