Minha intenção ao trazer-lhes esse excerto, que NÃO é de minha autoria, é a de provocar uma reflexão a mais sobre as relações amorosas.
Neste texto, considera-se o termo AMANTE pura e simplesmente como < aquele(a) que ama >; e o termo AMADO como < aquele(a) que é objeto do amor >
Boa leitura!
Kathleen
SOBRE O AMOR E AMAR* (Carson Mc Cullers)
“Antes de mais nada, o amor é uma experiência conjunta entre duas pessoas.
Mas o fato de ser uma experiência conjunta não significa que seja semelhante para as duas pessoas envolvidas.
Há o AMANTE e o AMADO.
Muitas vezes, o amado é apenas um estímulo para todo o amor que, até então, permaneceu guardado no amante, pois há nele uma vontade de amar, uma predisposição. E, de alguma forma, todo amante sabe disso.
Ele sente em sua alma que o amor é uma coisa solitária. Ele aprende a conhecer uma nova e estranha solidão, e é esse conhecimento que o faz sofrer.
Portanto, há somente uma coisa que o amante pode fazer: ele deve abrigar o seu amor dentro de si, da melhor maneira que conseguir. Deve criar para si mesmo um mundo interior totalmente novo, um mundo intenso e estranho, completo em si mesmo.
É preciso acrescentar que o amante do qual falamos não precisa ser um jovem; pode ser homem, mulher, criança, pessoa de qualquer idade ou qualquer criatura humana dessa terra. Qualquer uma que tenha vontade de amar e realizar esse desejo.
O ser que é amado também deve ser descrito. As pessoas mais inesperadas podem servir de estímulo para o amor. O ser amado pode ser trapaceiro, injusto, infiel, estúpido e cheio de maus hábitos, ser desamoroso.
Sim, e o amante verá os seus defeitos tão claramente como qualquer pessoa.
Apenas, isso não afeta a evolução do seu amor. A mais medíocre das pessoas pode ser objeto de um amor selvagem, lírico, extravagante e belo como os lírios envenenados do pântano.
Um homem bom pode ser estímulo até para um amor violento e degradado, perigoso... Ou um louco pode fazer nascer na alma de alguém um carinho terno e simples.
Portanto, o valor e a qualidade que qualquer amor só podem ser determinados pelo próprio amante.
Por esse motivo, a maioria de nós prefere amar a ser amado .
Quase todas as pessoas querem ser amantes.
E a dura verdade é que, secretamente, a condição de ser amado é insuportável para muitos.
O amado sempre teme e odeia o amante, e com toda a razão!
O amante necessita desesperadamente da relação com o amado, mesmo que essa experiência não lhe cause senão sofrimento .”
*Título que atribuí a esse trecho da novela de Carson Mc Cullers, “A balada do Café Triste”, que rendeu em 1991 um excelente filme, com o mesmo título.
Elenco: Vanessa Redgrave, Keith Carradine, Rod Steiger, Cork Hubbert.
Recomendo ambos.
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 15/09/2006
Alterado em 21/09/2013