AMAR ALGUÉM
Serei pó, serei lembrança,
Nos retratos espalhados nas gavetas
Que guardam minha fases
De mulher e de criança,
Em colorido e preto&branco.
No desbotado das fotos
[porém...]
Não estão registrados
Os desejos,
Os projetos,
As esperanças,
As frustrações,
Os amores,
Nem os versos.
O conteúdo estará invisível,disperso.
A imagem não revelará a alma.
Onde o primeiro dia
Da consciência plena do viver?
Onde a primeira vez
Que o coração bateu forte
E, trêmulo, se disse "eu amo você" ?
Onde a primeira derrota na escalada,
Ratificando que sonhos,sonhos são?
Onde a primeira intuição?
As lágrimas embaralhadas
À própria identidade,
Ainda tão confusa?
Onde o registro
Do primeiro sorriso de amor,
Da primeira mágoa de desamor?
A primeira dúvida, o mote de um poeta -
"Se o sentimento desbotar
Desbota o coração também?" -
Fadado a ficar endurecido,
Em eterna reclusão?
Suas veias entupidas
Só porque o amor partiu?
Não se ama alguém por brincadeira...
Não se pode deixá-lo virar só um retrato
Empoeirado na prateleira...
Um ornato,um esquecido artefato,
Um nome no coração flechado
Desenhado no muro ou na paineira...
Amar alguém é diferente.
Amar alguém é história.
Uma tatuagem no coração,
Uma referência,uma evocação,
Um perfume retido na memória.
É a estruturação do sempre!
É saber onde encontrá-lo
No emaranhado de nós mesmos,
Guardado como um bem.
Mais do que um nome a recordar
O amor é um elo
Com a eternidade do ato de amar.
Um dia, meu rito de passagem...
E o amor, bem sei,
Me seguirá nessa viagem.
01/06/2005_São Paulo