LIMPEZA
Não posso mais amar esta cidade,
Suas praças, ruas, cantos, becos,
A bruma melancólica da madrugada,
A luz noturna,
Os bares com nomes em neón,
A velocidade dos carros
Como a carregar
Nossas lembranças.
Já não posso mais amar este cidade...
Elos fortes demais e um ser tão frágil,
Esvaziado da sua presença.
Você impregnou tudo que existe!
Marcou seus pertences
E em letreiros coloridos
Escreveu o seu nome.
Luminosos fixos...
Não se apagam nem com a chegada do dia,
Estrela vésper na agonia da manhã,
Da tarde, da noite,
Da vida inteira.
Encheu meu cálice de vontades
Com gestos, perfumes, atitudes.
Resgate seu corpo de minha alma,
Me deixe descansar,
Dormir sem ter que sonhar,
Acordar sem ter que esperar.
Varra das ruas
As marcas dos seus pés.
Destrua as vitrinas das lojas
Que anunciam seu perfume,
Os seus brinquedos,
As suas roupas.
Feche os bares
Que oferecem sua bebida,
Vendem seus cigarros.
Não permita mais
A existência de livrarias
Nem de cinemas....
Medo de reencontrar você
Nos livros,
Nas telas,
Nos quartos,
Na vida que vivemos.
Leve a poeira.
Recolha as folhas secas.
Apague seus vestígios.
Só a poesia de nós restará.