Composição de José Luís Tinoco, na voz de Carlos Carmo
No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto,
Janela debruçada para a vida.
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo,
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia,
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço,
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio,
A sina de quem nasce fraco ou forte,
O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste,
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha,
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um cantochão alentejano,
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano.
Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas,
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte,
O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste,
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro,
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera do futuro.
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imagem: paisagem do Alentejo (PT)