Kaleidoscópio Literário
a expressão de Kathleen Lessa
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Textos

Fragmentos e Cismares 30

 

[AMOR ABORTADO]



O tempo de chegar é o tempo da agonia.
O tempo de esperar é o tempo da ilusão.
Vislumbramos o objeto do nosso amor bem antes que ele seja presença e certeza, bem antes que ele seja Amor.
Depois, corre um tempo, surge a frustração, muitas vezes.

Num dia de sol ele decreta o fim abrupto.
Órfã, Ela.
Aborta-se o Amor, a possibilidade de amar com inteireza, tanto para quem o decretou como para quem foi sentenciado.
Tinha já 14 meses e, de repente, não vingou... Foi abortado.

Ela se sente um papel amassado e lançado com raiva no ar, sem motivo, sem palavras.
Um impulso?
Um mês é tempo largo e suficiente para se voltar atrás, desfazer um equívoco, abrir os braços e correr para um abraço...
Não.

O que se faz quando Amor acena o lenço do adeus?
Como se cura a dor que fica, as lágrimas que passam a morar nos olhos, o corpo que se encolhe, um sobressalto cada vez que o telefone toca, a memória que nos atormenta trazendo alguma frase bem dita
("parecemos adolescentes dizendo bobagenzinhas e namorando pelo celular... Isso é amor. Eu te amo".),
os
apelidos ("minha galega", "meu  floco de algodão"...),
planos ("...Estou me organizando... Farei isso, depois aquilo e irei a São Paulo ficar com você. Os planos seguem esta ordem..."),
um poema deixado na tela numa certa madrugada, enquanto a amada adormeceu, aguardando-o:

          ("Onde andas, minha donzela branca?
         Afundo em saudades...
         Ergue-me, dá-me tua mão...
         Acorda!

       Põe-me em teu colo, mela-me com teus olhos...
         Cobre-me com o bálsamo da tua pele rósea...
         Ressuscita-me, que pereço de saudade!"),


uma questão que ficou sem resposta, várias sem respostas ...

        (" - Quando, amorzinho?
           - Não especule, minha menina.
             Direi no momento aprazado.")


Se o amor existe?
Se um dia existiu?
Sim e sim.
Mas um dia o Amor, e não se sabe por quê, fechou a porta.
Fora da minha vida!, teria ele bradado, sem qualquer explicação.
Ela se criva de questões, acorda em meio ao sono, cheinha de lucubrações:

(Medo? Impossibilidades que desconheço? Saúde? Trabalhoso cuidar de uma relação depois de certa idade? Ciúme tolo? Talvez  alguma fofoca? Receio de fracasso, de um ou do outro? Engano? Olhou melhor um ângulo dela e achou-a feia? O que fiz de errado e que não sei?)


Murcha ficou, sem água nem adubo... Uma colegial posta pra fora
de casa sem atinar com o motivo... 

Nada.
Não fez nada.
Não há mesmo respostas...
Sonho com dores reais.
Amor pede ousadia.
Não foi feito para contemporização.


E ela o queria tanto! Tanto!

    ("... lá pelas 13 horas poderei ligar. Até domingo.")

Nunca mais.
Os fatos determinaram o tempo.
Ela chorou, pediu, implorou, atreveu-se, atrevida que é.

Mentiu?
Talvez.
Mas não precisava...

Ele se engana ao sufocar o Amor Maduro!
Ela se engana ao considerá-lo resoluto e livre!
Ele sonhava ter colhido nela o primeiro amor.
Ela queria ter plantado nele o seu último.


Dizem que quando os elefantes pressentem a morte iniciam uma viagem sem volta. Dirigem-se a um lugar secreto onde aguardam seu fim.
Simples assim.

 

"Um lugar deve existir
 Uma espécie de bazar
 Onde os sonhos extraviados vão parar
 Entre escadas que fogem dos pés
 E relógios que rodam pra trás" (*)

                           

 
...


(*) versos de  Chico Buarque de Holanda

KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 29/04/2009
Alterado em 08/01/2013
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