Kaleidoscópio Literário
a expressão de Kathleen Lessa
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                  2ª CARTA A UM POETA



Vim... Finalmente vim. 
E é assim que gosto de vir, poeta... Com tempo, lendo letra a letra, viajando, sentindo a posição (e função) de cada palavra.  
Desse jeito, vagarosamente, divirto-me e também e me distraio imaginando como respirava o amigo quando usou tal e qual pausa, como a frase ficaria se tivesse usado outra pontuação...Adivinhar a que horas escreveste, de onde, como te sentias, de que modo estavas... Não teu humor mas tua pulsação naquele dia e momento...tua motivação.
Imagino tantas coisas e são tantas as leituras sobre teus escritos! Mais do que simplesmente ler, venho imaginar, vagar, tomar posse do que leio!  Como se fora meu ou eu mesma co-autora  do teu poema.
Por isso tenho vindo pouco, amigo.... 
Vir só por vir, sem essa largueza de tempo de espírito, não venho.

Onde parei? Ah, sim... Antes do dia "x". 
Sigamos então a trilha dos sete dias até hoje.

Escreveste aqui, no teu diário de versos: "Dia do Poeta. Não será peta?”
Penso que usaste "peta" com propósitos subliminares. Não que não fosse verdadeira a alusão ao dia, o Dia do Poeta. Porém creio que pensaste no "poeta fingidor que finge tão completamente" que passa por mentiroso.Ou louco! Depende da nossa melhor ref(v)erência. Bivalves... simetricamente bivalves.
Achei tua imagem poética linda, deliciosa, pontual para o encaixe em concha dos corpos que se querem amalgamar, espiritual ou físicamente. Histórias várias, intenções não previstas... Por tempo longo ou curto.
Quando são histórias longas, confesso, nem mais as da vida eu estou suportando. Já gostei muito de ler romances. Há quase 2 décadas prefiro o conto e a poesia. Novela e folhetim nem pensar! Falta-me tolerância para ir subindo aos poucos os degraus da narrativa. Quero saboreá-la de vez, com gula e desejo urgentes!
Coisas da idade talvez, quando já não mais se quer perder um tempo que ainda mais rápido escoa... Es-coa... Ex_colare... deslizar para fora, correr lentamente, dissipar-se. Mas - que estranho sentir, poeta... - a sensação que tenho é de que é para dentro de mim que o tempo corre, desliza... Incoa? Não. Incoar é outra coisa. 
Nossa língua e seus tantos mistérios! Jamais nós a domaremos, a teremos desvendada e completa nas mãos. Creio que são "petas" certa origem e
linhagem que se quer dar a determinadas palavras. Elas estão libertas de estirpe. Fizeram-se por si. Criaram sua própria história.

Que achas?
Engolimos (en_gola < en_gula < garganta < gogó) e fazemos de conta que está tudo bem...
A buona volontà, non manca facilità. 
Capito? 

Em honra a Petrarca (que também é Francisco), arrisco esse italiano:
Con amicizia, baci per te. 
Kathleen


"Sigo pensando, e em pensamento assalta-me 
    Uma piedade tão forte por mim mesmo,
       Que sou forçado não raras vezes
          A chorar com outras lágrimas que uma vez já chorei." 
                                            (Petrarca) 

21/03/2007

(para o amigo e poeta Francisco Coimbra, inspirado em comentário que fiz a um dos seus textos)




Nota: PETA [em linguagem portuguesa popular/familiar]: mentira, lenda, cascata, lorota, fraude.

 

 

KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 13/09/2008
Alterado em 26/06/2009
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