FRAGMENTOS E CISMARES 21
[EM CORAÇÃO FERIDO, UM MAR DE MÁS PALAVRAS...]
Saudade e melancolia que se arrastaram comigo pela suja madrugada e dia inteiro...
Menstruação dolorosa.
Tristeza e desconcerto com que ouço da minha fragilizada voz a melodia...
Um riscar de unhas na lousa de ardósia.
Perguntas sem respostas, carência da presença, culpas, réquiem e agonia...
Mastigo fel.
Versos longos porque na busca de completude se encompridam, sem harmonia, tantas palavras sem verdade nem sentido.
Dois dias passando rápido
E demorando a passar.
Crise.
Falar sozinha, doer, comiserar-se, amaldiçoar as palavras.
Um mar de más palavras para expor as feridas.
Palavras impuras vestidas de aromas raros,
Saltaram do claro rosa para o azeviche...
Sempre há uma palavra no lugar de outra.
A que se disse não é a que se quis dizer.
Palavras falsárias. Pífias.
Reluzem como ouro. São de zinco.
Sedutoras como uma mulher sem escrúpulos.
Há um grito de socorro para o espasmo que me chegou como um raio!
Fulminou-me.
Cortes nos dedos, os murros na ponta da faca.
O choro de sangue.
Os cabelos arrancados.
A súplica do amor machucado.
O amor?
Amor, como fazer, meu amor?
Melhor calar, consentir?
Mentir?
Equilibrar o sim e o não, como se possível fosse?
Argumentar e criar embate?
Não tenho mais idade, não temos mais idade...
(repito o mantra de uma amiga em despero)
Devemos-nos serenidade...
(repito, repito...)
O amor sem dor
(e capitulo... não existe.)
Perdi o jogo?
Perdi a poesia diária?
Perdi-me de mim? De ti? Deles?
Cães sarnentos, sem olfato?
Ah, abrir os braços, engalfinharmos mãos, não nos perdermos,
Que o tempo que passa também não se nos dará...
Este, num estalar de dedos passou sobre minha cabeça, sobre minha mortalha mísera,
Em breve lançada na cova vagabunda, sem exéquias nem bálsamo.
Silêncio.
Nada mais atroz e cruel que o silêncio quando se quer falar!
A negação da palavra. O castigo. Desterro e fome.
Retrocede, tempo...
Retrocede também
À confiança.
Mitiga.
Ilude com aplausos,
Que é duro soçobrar.
imagem: Marcos Duarte