Tenho a consciência de que o tempo urge. Preciso olhar, no rosto de quem eu prezo, a beleza que esqueci de ressaltar. Há em mim uma vontade imensa de prestar uma homenagem às pessoas que amo; a muitas que eu sequer conheço mas não sei como fazer. Elas já sabem do meu amor e do bem-querer por aquelas que me rodeiam, que gostam de mim.
Quero falar desse meu jeito de gostar da família, dos animais, da vida. Presto atenção em tudo que a natureza me diz pelo fato de vê-la como a razão do nosso existir. Nada melhor do que apreciar o fascínio que Ana tem pela leitura, seu zelo com os animais e com o trabalho que desempenha com brilhantismo. Preciso falar do olhar sereno e dos gestos simples de minha mãe.
Na infância eu tive medo do escuro, do raio, do trovão. Mas encontrei nos braços de minha mãe o abrigo acolhedor.
Já andei mundo afora, refiz caminhos, diminuí as passadas quando foi preciso parar. Amei a vida em doses homeopáticas, realizei planos, sonhei com o melhor para a espécie humana, mas confesso que nem sempre fui feliz. Já fui idealista, sofri desenganos, sobrevivi aos problemas quando muitos nem acreditavam mais em mim. Hoje, caminho a contemplar mais pores do sol. Aqui no meu canto calado, sinto-me como se eu fosse a madrugada que se despede de nós sem ser notada. Às vezes é preciso passar dos quarenta anos para só então compreender que o melhor da vida é poder passar despercebido neste mundo. É estar só sem aquele sentimento de solidão presente. Viver sem ter compromisso com agenda, horários; sem se preocupar com o que as pessoas venham a pensar sobre você. Pouco importa a impressão causada, a demora na fila, a comida atrasada, se vai chover ou fazer sol. Já está impregnada na pessoa a consciência de que tudo passa e que é preciso apenas viver.
LUIZ MAIA, poeta e cronista recifense.