CHUVAS AO SOL*
O mar vivo
é esplendidamente sensual
com suas nódoas azuis
à superfície,
mas costuma
nos deixar um amargo
sabor de sal
à boca;
as estrelas
são magnificamente belas,
mas, como estão muito
distantes,
costumam
nos deixar um doloroso
sabor de ausência
ao peito;
as mariposas,
pelo menos, estão ao alcance das mãos,
mas elas preferem morrer
incautas,
tentando foder
com as fluorescências das lâmpadas,
deixando-nos um sabor de vazio
à alma.
Por isso é que,
nestas úmidas abstrações de tudo,
tentei ser alquimista
de verbos;
esvaindo-me
no grande fracasso de transformar
sombra e pedras, em sublimes
e transcendentes
versos.
Péricles Alves de Oliveira
*(interação com o poema "Obstinação", de Kathleen Lessa)