“Quando as pessoas mais jovens, com a superioridade das suas forças e da sua atitude confiante, se riem de nós nas costas e acham engraçado o nosso penoso andar, os nossos cabelos brancos e os nossos pescoços emagrecidos e tendinosos, também nós nos lembramos de ter em tempos idos, em posse de igual vigor e confiança, rido da mesma maneira; não nos sentimos derrotados nem inferiores, em vez disso alegramo-nos por ter atingido esta fase da vida e por nos termos tornado um bocadinho mais espertos e mais tolerantes.”
“O que seria de nós, os velhos, se não tivéssemos esse livro ilustrado que é a memória, toda essa riqueza de experiências vividas! Seria uma situação lamentável, seríamos uns miseráveis. Deste modo, somos imensamente ricos e não nos limitamos a arrastar uma carcaça cansada, de encontro ao fim e ao esquecimento; somos guardiães de um tesouro que viverá e resplandecerá enquanto nós próprios respirarmos."
"Aquele que envelhece e que segue atentamente esse processo poderá observar como, apesar de as forças falharem e as potencialidades deixarem de ser as que eram, a vida pode, até bastante tarde, ano após ano e até ao fim, ainda ser capaz de aumentar e multiplicar a interminável rede das suas relações e interdependências e como, desde que a memória se mantenha desperta, nada daquilo que é transitório e já se passou se perde."
"Todas as flores aspiram a ser fruto,
Todas as manhãs a serem noite,
Nada de eterno na Terra
A não ser a mudança, a fuga.
Mesmo o mais belo dos Verões anseia
Por conhecer o Outono, o definhar.
Aguenta-te, folha, mantém-te calma,
Quando o vento te quiser arrebatar.
Deixa estar, não tentes defender-te
Que aconteça o que tiver de ser.
Deixa o vento, que te arranca e parte,
De regresso a casa conduzir-te."
(Hermann Hesse - excertos de "Elogio da Velhice")