NUNCA TE VI, SEMPRE TE AMEI... (Mª Alice Estrella)
O impacto e a situação apresentadas no filme encontraram eco em mim, na minha história recente.
Talvez na de muitos, se alterarmos o ambiente geográfico, o tempo e o meio de comunicação.
Quem ainda não assistiu ao filme, faça-o.
É bem provável que se reconheça no enredo.
Trago a resenha de Maria Alice Estrella sobre o filme, primorosa!, porque eu não conseguiria retratá-lo melhor que ela.
Película de 1986, dirigida por David Jones, ganhadora de 2 Oscar.
"Nunca te vi, sempre te amei..."
Sou "fã de carteirinha" da sétima arte. Sou alvo dos seus encantos, desde menininha, quando freqüentava os inúmeros cinemas que existiam em Porto Alegre.
Os rolos de celulose, contando histórias através de personagens memoráveis, exercem um fascínio sobre a minha pessoa ...Assistir a um filme, para mim, exige um ritual. O ritual de desligar-me de imagens e sons do cotidiano para mergulhar nas imagens e sons impressos na tela. É um cerimonial onde descubro a arte da vida retratada em movimento e reencontro pedaços da minha própria vida pincelados entre uma cena e outra.Processo de identificação que justifica a arte por si mesma.
Minha paixão por cinema é tanta que, muitas vezes, procuro rever filmes a que já assisti. Alguma coisa muito forte deixou marcas e quero sinti-las novamente.
Pois foi uma dessas razões que me fez buscar o filme Nunca te vi, sempre te amei, com desempenhos de Anthony Hopkins e Anne Bancroft.
Nas locadoras de vídeo em que procurei, sai frustrada porque a fita não existia em seus acervos.
Já estava conformada em revirar minhas memórias para buscar o que queria relembrar, quando abri o jornal e me deparei com a programação de uma emissora de televisão, incluindo o filme. Coincidência ou não, encontrei o que buscava.
Assisti ao filme e saboreei cada detalhe, cada gesto, cada palavra, cada emoção com uma apreciação renovada.
Em síntese, o roteiro trata da correspondência mantida entre uma escritora de Nova Iorque e o gerente de uma livraria de Londres, onde se comercializavam livros raros. Simples. Muito simples, já que a história se passa em 1949 e se estende por mais de 20 anos. O meio usado era o correio e os carteiros faziam o trabalho de entrega e recebimento. Coisas em desuso atualmente: selos, envelopes, folhas manuscritas, surpresas palpáveis. O tempo se desenrolava, bem lentamente, entre uma carta e outra, trazendo um saber de expectativa mastigada em suspiros de espera e de ansiedade.
Em um determinado momento, na película, o entrosamente entre os dois é tão declaradamente profundo que eles começam a conversar, olhando para a câmera como se estivessem frente a frente. Na verdade, milhas de terra e mar estavam separando-os fisicamente, mas parecia que desconheciam esse detalhe. Aliás, mero detalhe porque quando encontros verdadeiros acontecem, a distância é condicionamento geográfico de menos importância.
Emocionei-me com a delicadeza da cena, vivida com perfeição por dois grandes atores, que passaram, com a sutileza do preciosismo, a imagem interior de cada personagem, respirando o outro.
Falar sobre isso, hoje, torna-se quase fora de hora. Quase... porque a modernidade trouxe-nos a realidade virtual que permite o correio instantâneo, sem espera de carteiro, sem abertura ansiosa de envelopes. Agora, é só ligar o computador, conectar-se à Internet e abrir com um toque de indicador, a caixa de correspondência eletrônica.
Pronto! A carta impressa na telinha pode ser lida e respondida em minutos.
O melhor de tudo é que esse avanço tecnológico, sinal dos tempos, adapta-se, também à realidade da vida e não a desfigura; transforma-a.
O AMOR continua acontecendo, valendo-se da evolução dos meios e servindo-se deles para unir personagens através das distâncias.
Inúmeras pessoas têm descoberto sua alma gêmea na intincada rede de comunicação e fazem alusão, sem saberem, ao título "Nunca te vi, sempre te amei..."
Algumas delas, ultrapassam a distância e, frente a frente, realizam sua história.
Destino que se cumpriu, alheio aos limites da máquina e atento ao processo da vida. Vida que se repete, como num filme, com os personagens que aceitam o roteiro, quando a palavra de ordem é: AMOR.
E amor, meus caros, é o mesmo sempre, em qualquer tempo ou espaço.
Se você foi premiado com essa descoberta, prepare a mala, a mochila, a esperança e parta em busca do seu presente. Os encontros, nesse nível de profundidade, são raros.
Não espere 20 anos, como na história do filme.
Publicado por KATHLEEN LESSA
em 27/11/2009 às 18h07