Como é difícil aos poetas externarem as impressões que lhes vão à alma, marcam o corpo, ocupam suas retinas, seus sentidos, os sentimentos. Nem sempre a palavra se ajusta como uma luva ao que se quer expressar. Esbarra-se nos limites da linguagem, desconstrói-se a gramática, neologismos surgem, usa-se a licença poética e...nem mesmo assim... Na maioria das vezes é como num passatempo de palavras-cruzadas: nos espaços estabelecidos só serve aquela palavra "x", para que haja perfeito cruzamento com as demais. Na poesia dá-se o mesmo.
Drummond escreveu (sempre ele!):
Lutar com palavras é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse,
teria poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
(trecho do poema "O Lutador")