Kaleidoscópio Literário
a expressão de Kathleen Lessa
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Meu Diário
11/12/2008 20h23
DECLARAÇÃO DO AMANTE ANARQUISTA (Roberto Freire)
Voltei agora à noite.
Chove em São Paulo. Felizmente.
A noite promete ser fresca.
Hoje estou em completo clima de AMOR!
Acontece.
E quando acontece é bom!
Derramo-me sobre as  palavras. Deixo as minhas de lado para saborear as que já me cativaram. E nelas redescubro- -me.

Lá vai outro texto de que gosto. 
Denso, reflexivo, verdadeiro!
Penso: no amor nãonos deixamos completar?
 
 
 
DECLARAÇÃO DO AMANTE ANARQUISTA

(Roberto Freire)

 
Quero dizer que te amo só de amor.
Sem idéias, palavras, pensamentos.
Quero fazer que te amo só de amor.
Com sentimentos, sentidos, emoções.
Quero curtir que te amo só de amor.
Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo.
 
Quero querer que te amo só de amor.
São sombras as palavras no papel.
Claro-escuros projetados pelo amor,
dos delírios e dos mistérios do prazer.
Apenas sombras as palavras no papel.
Ser-não-ser refratados pelo amor
no sexo e  nos sonhos dos amantes.
Fátuas sombras as palavras no papel.
 
Meu amor te escrevo feito um poema
de carne, sangue, nervos e sêmen.
São versos que pulsam, gemem e fecundam.
Meu poema se encanta feito o amor
dos bichos livres às urgências dos cios
e que jogam, brincam, cantam e dançam
fazendo o amor como faço o poema.
 
Quero da vida as claras superfícies
onde terminam e começam meus amores.
Eu te sinto na pele, não no coração.
Quero do amor as tenras superfícies
onde a vida é lírica porque telúrica,
onde sou épico porque ébrio e lúbrico.
Quero genitais todas as nossas superfícies.
 
Não há limites para o prazer, meu grande amor,
mas virá sempre antes, não depois da excitação.
Meu grande amor, o infinito é um recomeço.
Não há limites para se viver um grande amor.
Mas só te amo porque me dás o gozo
e não gozo mais porque eu te amo.
Não há limites para o fim de um grande amor.
 
Nossa nudez, juntos, não se completa nunca,
mesmo quando se tornam quentes e congestionadas,
úmidas e latejantes todas as mucosas.
A nudez a dois não acontece nunca,
porque nos vestimos um com o corpo do outro,
para inventar deuses na solidão de nós.
Por isso a nudez, no amor, não satisfaz nunca.
 
Porque eu te amo, tu não precisas de mim.
Porque tu me amas, eu não preciso de ti.
No amor, jamais nos deixamos completar.
Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.
 
O amor é tanto, não quanto.
Amar é enquanto, portanto. Ponto.


 
Publicado por KATHLEEN LESSA
em 11/12/2008 às 20h23
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