[poema de 1914]
Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
O porto que sonho é sombrio e pálido
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
Não sei quem me sonho... II
Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
A missa é um automóvel que passa
E apagam-se as luzes da igreja III
A Grande Esfinge do Egito sonha pôr este papel dentro...
Escrevo - perturbo-me de ver o bico da minha pena
Caio por um abismo feito de tempo...
Ouço a Esfinge rir por dentro IV
Que pandeiretas o silêncio deste quarto!...
De repente todo o espaço pára..., V
Lá fora vai um redemoinho de sol os cavalos do carroussel...
E os dois grupos encontram-se e penetram-se
De repente alguém sacode esta hora dupla como numa peneira VI
O maestro sacode a batuta,
Prossegue a música, e eis na minha infância
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Atiro-a de encontro à minha infância e ela
Todo o teatro é um muro branco de música
E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
E a música cessa como um muro que desaba,
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[Amor e desespero de viver]
"A miséria impediu-me de acreditar que tudo vai bem sob o sol e na história; o sol ensinou-me que a história não é tudo."
A frase acima é um excerto do prefácio que Camus escreveu em 1958, quando finalmente consentiu que seu primeiro livro, "O Avesso e o Direito", fosse relançado.
Originalmente publicado quando o autor tinha apenas 22 anos, Camus proibiu a republicação durante longo tempo precisamente por sua insatisfação com relação à imaturidade desses escritos.
Diz, no prefácio: "Os preconceitos que alimento sobre arte, a despeito de mim mesmo, impediram-me, durante muito tempo, de pensar em sua reedição".
Embora Brice Parain afirmasse que este era o que de melhor Camus havia escrito, o argelino dá-se o direito de discordar. Entretanto, em um aspecto este concorda com seu crítico: "Há mais amor verdadeiro nestas páginas do que em todas as que se seguiram".
O que já surge nos contos filosóficos de "O Avesso e o Direito" é a sempre franca reflexão sobre a existência humana que constitui a marca deste autor. Aqui Camus reflete sobre todos os temas que mais tarde se consolidaram como centros de sua obra: a solidão, a morte, o exílio, o absurdo. Entretanto, não só de dores são feitos os escritos camusianos. Reside neles também o lado solar do argelino, expresso por sua característica paixão pelo clima mediterrâneo: é a felicidade sensível, talvez o único meio de redenção humana. O mesmo homem que caminha pelo lado escuro da vida, e que mais tarde será o autor de um dos mais profundos e sinceros tratados jamais escritos sobre o lado negro do homem, "A Queda", traz em sua alma um eterno verão - o que o leva, inevitavelmente, a uma redenção através dos sentidos. "Afinal, o sol nos aquece os ossos, apesar de tudo", são as últimas palavras do primeiro ensaio literário do livro.
Albert Camus é forte demais para se dedicar a uma vida de infelicidade e tristeza, como tantos fizeram - ou fazem. Mais do que ninguém, conhecia a miséria humana, pois nela havia nascido e vivido grande parte de sua vida; entretanto, era suficientemente digno para dela extrair a matéria prima de seu estilo literário. "Sei que minha fonte está em "O Avesso e o Direito", nesse mundo de pobreza e luz em que vivi durante tanto tempo, e cuja lembrança me preserva, ainda, dos dois perigos contrários que ameaçam todo artista: o ressentimento e a satisfação" - diz no prefácio, e continua: "Eu vivia na adversidade, mas, também, numa espécie de gozo. Sentia em mim forças infinitas: bastava, apenas, encontrar seu ponto de aplicação. Não era a miséria que colocava barreiras a essas forças: na África, o mar e o sol nada custam. A barreira está mais nos preconceitos ou na burrice. (...) Mas, depois de me questionar, pude constatar que, entre minhas inúmeras fraquezas, jamais figurou o defeito mais difundido entre nós, quer dizer, a inveja, verdadeiro câncer das sociedades e das doutrinas".
O primeiro ensaio literário da obra intitula-se A Ironia.
Profunda reflexão sobre a morte e o abandono, fala ao mesmo tempo da juventude e velhice. Uma velha mulher, que em desesperada carência clama pela atenção de seus próximos, é trocada pelo cinema. Um velho que convive com os jovens, vivendo a ilusão de que recuperará a juventude perdida com eles - e, logo, entregue à solidão do abandono –, é obrigado a se defrontar com a cruel verdade. Por fim, a morte de uma velha, cujo egocentrismo fê-la crer que "o amor é algo que se exige" e que, por isso mesmo, morre esquecida em meio às suas próprias encenações, nas quais lutava miseravelmente em busca de um pouco da atenção dos que a cercavam. "Três destinos semelhantes, e, contudo, diferentes. A morte a todos, mas a cada um a sua morte". Quase se pode ouvir Camus sussurrando: que se procure o sol enquanto há tempo.
Entre o Sim e o Não é um ensaio de raízes autobiográficas no qual Camus volta à sua infância e fala sobre a necessidade da simplicidade para que bem se viva.
Entre a solidão e o passado, é necessário um desapego: "Em um certo grau de despojamento, nada mais leva a mais nada, nem a esperança nem o desespero parecem justos, e a vida inteira resume-se a uma imagem". Se a vida é feita de momentos que às vezes não significam nada, cuidemos de desvendá-los - mas sem cuidar de complicar as coisas. Camus defende que se viva com uma boa dose de realismo e de sinceridade. Se os homens tornam o mundo difícil, é nossa missão restaurar sua simplicidade original.
Com a Morte na Alma traz o tema do exílio e da solidão da viagem.
Vagando por Praga, entregue a momentos de tédio e de rotina, Camus pondera sobre o sentimento de distância e sobre a saudade de casa. Como viver, como encontrar paz, quando tudo o que há são rostos estranhos e placas cujo significado se desconhece? Entretanto, em Vicenza, o desconforto encontra um ponto de equilíbrio - a alma camusiana encontra o seu alimento: o sol. A infelicidade do espírito humano encontra-se na escuridão; diante da vastidão do mundo, pode-se encontrar o necessário à restauração de sua grandeza.
Amor pela Vida também fala sobre viagens, mas de um ponto de vista mais estético.
Camus fala de esculturas, de claustros góticos, do verde da tarde, de colinas que deslizam para o mar. Há um certo amor perdido em tudo isso; o amor que, quieto, habita na arte, assemelha-se àquele que se pode encontrar na natureza. Depende da disposição da alma ser capaz de encontrá-lo, desvendá-lo e alcançá- lo. É um dos momentos camusianos em que a arte e a vida se identificam - mas sem o niilismo ilusório que pretende transformar a vida em uma obra de arte, o que seria uma heresia para o realismo camusiano. É preciso extrair a arte da vida sem negá-la enquanto vida. Foi na miséria que Camus descobriu a beleza.
Por fim, o último ensaio do livro é o que dá nome à obra.
O Avesso e o Direito fala sobre uma mulher que se apega de tal modo ao seu próprio túmulo que acaba por morrer aos olhos do mundo. Nada mais típico, nada mais comum; vivemos numa sociedade de mortos, que, por orgulho ou um egocentrismo fanático, são incapazes de desviar os olhos de si mesmos para contemplar a vida. "A vida é curta, e é um pecado perder tempo", diz Camus.
"Deixem, pois, aqueles que querem dar as costas ao mundo. Não me queixo porque me vejo nascer. Neste momento, todo o meu reino é deste mundo".
Porque o homem precisa criar castelos para si mesmo, quando o mundo já representa um lar para todos? "Posso dizer, e vou dizê-lo, que o que conta é ser humano e simples".
Camus viveu o que afirma, e oferece a todos a oportunidade de seguir o mesmo caminho.
Foi, acima de tudo, humano; viveu suas tristezas, mas sempre teve a dignidade e a grandeza necessárias para delas fazer nascer o estímulo para seu amor pela vida.
O Avesso e o Direito traz as reflexões de um jovem Camus sobre o absurdo da existência e sobre a paradoxal felicidade que dela se pode extrair - pois, como ele escreve nessas preciosas páginas:
"Não há amor de viver sem desespero de viver".
Que assim seja.
Henrique Marques Samyn
setembro/ 2006
revista Carcasse
O gesto Namastê representa a crença de que há um brilho divino dentro de cada um de nós.
O gesto é o reconhecimento da alma de um no outro.
"Nama" significa saudação ou reverência, "as" quer dizer eu e "te", você.
Logo, Namasté literalmente significa "saudação eu você" ou "uu saúdo você" ou seja, O Deus que há em mim saúda o Deus que há em você.
Para fazer o gesto Namastê, colocam-se as palmas das mãos juntas na frente do chakra do coração, em frente ao terceiro olho, fecham-se os olhos e arqueia-se ligeiramente a cabeça. Pode também ser feito da mesma forma só que trazendo as mãos abaixo do coração. Essa é uma forma especialmente profunda de respeito.
Apesar de a palavra Namastê no Ocidente ser dita em conjunção com o gesto, na Índia é compreendido que o gesto por si só significa Namastê e então, não há necessidade de dizer a palavra quando se saúda ou reverencia alguém.
Trazemos as mãos em direção ao chakra do coração para aumentar o fluxo do amor Divimo. Arquear a cabeça e fechar os olhos ajuda a mente a render-se ao Divino no coração. Veja a figura abaixo.
Pode-se fazer Namastê para si próprio como técnica de meditação para atingir o chakra do coração profundamente. Quando feito para outra pessoa é igulamente uma bonita meditação.